Publicado em 05/04/2021 - geral - Da Redação
Spice, K2, K4, maconha sintética. Essas são algumas das denominações populares de drogas ilícitas classificadas cientificamente como canabinoides sintéticos, que segundo estudos recentes apresentam enorme risco à saúde pública. Desde o início do ano, a Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) vem registrando um aumento expressivo na identificação desse tipo de entorpecente que pode provocar graves efeitos à saúde, incluindo overdose fatal.
Conforme
explica o Perito Criminal do Instituto de Criminalística, Pablo Alves Marinho,
em cerca de 30% das drogas sintéticas analisadas pela PCMG recentemente, que
são encontradas na forma de papel (semelhantes a selos de LSD), foram
identificados os canabinoides sintéticos. “É chamada popularmente de maconha
sintética, por ser sintetizada em laboratórios. Mas, diferente da natural
(cannabis), já existem relatos em diversos países de overdose e morte
decorrente do abuso dessas substâncias”.
Dentre
alguns dos efeitos colaterais nocivos do consumo dos canabinoides sintéticos,
estão psicose, paranoia, confusão mental, irritabilidade, automutilação,
taquicardia e arritmia. “Em alguns casos, pode ser suficiente um único consumo
para provocar uma overdose”, alerta Marinho. “Por se tratar de uma droga nova
no mercado ilícito, não há como o usuário saber sobre a quantidade da droga
incorporada no papel, não havendo consumo seguro dessas substâncias”,
esclarece.
Segundo a
United Nations Office on Drugs and Crime (UNODC), agência da ONU responsável
por controlar as drogas ilícitas em todo o mundo, os primeiros relatos de uso
abusivo — quando uma droga passa a ser utilizada indiscriminadamente para fins
recreacionais — da maconha sintética datam de 2008. Ainda de acordo com a
agência, de 2009 a 2020, mais de mil novas substâncias psicoativas em
circulação foram reportadas pelos laboratórios forenses ao redor do mundo.
Inicialmente,
algumas dessas substâncias químicas foram sintetizadas para fins terapêuticos,
mas dado os efeitos colaterais não foram registradas para tratamentos médicos.
“Ficaram conhecidas como maconha sintética porque as moléculas dessas drogas
ativam os mesmos receptores que o THC (princípio ativo da maconha) se liga no
nosso corpo, porém com maior potência”, revela Marinho.
Desde
então, observou-se a popularização da droga em vários países no mundo por seu
potencial abusivo. “O preocupante é constatarmos esse aumento abrupto de
circulação dessas drogas em Minas Gerais, baseado em nossas análises periciais”,
afirma o policial. “Felizmente, a PCMG está bem capacitada e com recursos de
ponta à disposição para esse trabalho, que é essencial para processo criminal”.
Qualificação
Para
tanto, o laboratório de química do Instituto de Criminalística, responsável por
periciar todas as drogas sintéticas apreendidas no estado, conta com
cromatógrafos sofisticados, equipamentos essenciais ao exame de detecção
acurada das substâncias ilegais. “Mas não é só isso. Por se tratar de uma droga
relativamente nova, é um desafio constante para os peritos criminais, que estão
diariamente se atualizando nas metodologias para identificação desses
compostos”, ressalta o Perito Criminal.
Há indícios de que a maconha sintética ainda chegue ao Brasil de laboratórios espalhados pelo mundo na forma líquida ou em pó e, então, distribuída ilegalmente por traficantes que visam, sobretudo, os jovens com alto poder aquisitivo. “Por isso, alertamos que se trata de um risco grande à saúde, uma vez que esse público pode nem saber o que está consumindo”, destaca o Perito, esclarecendo que a droga é incorporada usualmente em papel ou misturada a ervas diversas — que em si não são entorpecentes — e, em seguida, queimada e inalada. “Visualmente, ela não é tão facilmente identificável. Por isso, até para as forças de segurança, em situações de apreensão, recomenda-se que sempre seja manuseada com luvas, caso haja suspeita da presença da droga sintética, a fim de se evitar a absorção pela pele”.
Por ASCOM-PCMG