Publicado em 05/02/2021 - marco-regis-de-almeida-lima - Da Redação
Empossados os novos
prefeitos dos 5.570 municípios, bem como os novos vereadores das respectivas Câmaras
Municipais, neste começo do ano de 2021, além do que renovadas as Mesas
Diretoras das duas casas do Congresso Nacional e das Assembleias Legislativas
estaduais, neste início de fevereiro corrente, a vida político-administrativa brasileira
segue seu rumo natural. Não sem trepidações e independente da Pandemia que há
um ano nos assola. Nem imune aos ataques golpistas que, ao longo da nossa
História têm mudado apenas de disfarces. Um grande equívoco tem sido os
democratas terem embarcado nos dois golpes contra o Presidente João Goulart; no
golpe contra o Presidente Collor de Mello, neste caso apoiado pelo oportunismo
do Partido dos Trabalhadores; no golpe contra a legítima Presidente Dilma
Rousseff, hoje já sob autocrítica do ex-ministro Armínio Fraga e do próprio
PSDB; e dos insensatos que atualmente já se movimentam pela derrubada do também
lídimo mandato do Presidente Bolsonaro. Não é à custa de golpes que iremos
solidificar nossa fragílima democracia.
Minas Gerais é o segundo
estado mais populoso do País, detentor do maior número de municípios, 853, embora
seja o quarto em extensão territorial. Somos o estado do equilíbrio nacional
diante da constatação expressa num discurso do então governador mineiro,
Tancredo de Almeida Neves: “Em Minas acaba a prosperidade do sul e começa a
pobreza do norte”. Vários fatores moldam a personalidade do mineiro,
rotulando-o pelo termo mineiridade. Um deles seria a inexistência de águas do
mar banhando o nosso território, uma questão que também envolve goianos,
tocantinenses, mato-grossenses de cima e de baixo, acreanos, rondonienses,
roraimenses e até amazonenses. Se a todos estes faltam águas oceânicas, sobram
extensos rios de água doce como os volumosos rios amazônicos, o Araguaia, o
Tocantins, o Paraná, o São Francisco. Criaram até o Mar de Minas, na imensidão
do artificial Lago de Furnas.
O mesmo Tancredo, em seu discurso de posse
como nosso governador, da sacada do Palácio da Liberdade afirmou: “O primeiro
compromisso de Minas é com a liberdade”. Realmente, o passado nos forjou nas
lutas libertárias contra a opressão dos impostos, pela independência brasileira
e nos movimentos pela abolição da escravidão. Na política republicana, Minas
sempre foi reconhecida pela presença de grandes personalidades, pacificadoras
ou vulpinas, sendo sua maior expressão o Presidente JK – Juscelino Kubitscheck
de Oliveira – uma estirpe democrata ceifada pelo último período autoritário.
Aliás, havia anos que
Minas Gerais não desfilava no comando dos nossos parlamentos nacionais. Eis que
agora emplaca um, Rodrigo Pacheco (DEM), não necessariamente um genuíno mineiro,
porque ele mesmo, no seu discurso de posse como Presidente do Senado, nesta
semana, explicitou ter nascido nas margens do Rio Madeira, em Porto Velho,
capital de Rondônia, embora criado na infância e adolescência na nossa vizinha
Passos, a quarta maior cidade do sul de Minas em número de habitantes. Concluiu
ele, no mesmo discurso, que foi adotado por Belo Horizonte, há 28 anos, onde exerceu
a profissão de advogado. Pacheco foi alçado nesse importante cargo pelo
Democratas (DEM), portanto da Direita, sob a unção do Presidente da República,
Jair Bolsonaro, Extrema-Direita (Sem Partido, ex-PSL). Ser presidente do Senado
significa comandar as sessões conjuntas do Senado com a Câmara dos Deputados,
nas questões em que isto seja exigido, além da condição de terceiro nome da
linha sucessória para o exercício da Presidência da República, quando isto for
necessário, seja para substituições temporárias ou até definitiva.
Deduzo que sendo filho de
mãe passense, e tendo vivido em Passos na infância e adolescência, Rodrigo
Pacheco muito deve ter ouvido e sofrido influências políticas do Presidente
Kubitscheck, cuja mulher, Dna. Sarah Lemos Kubitscheck era natural dessa mesma
cidade. Tanto é que no seu discurso de vitorioso na eleição do Senado por duas
vezes ele citou o nome do ex-Presidente, um mineiro de Diamantina. Mesmo
sabendo que JK foi perseguido pelos militares na ditadura, ou seja,
contrariando seus atuais mentores.
Pelo que se sabe, conforme
conteúdo do jornal ‘O Estado de S.Paulo’, em matéria publicada na revista digital
‘Isto É Dinheiro’, de 30/DEZ/2020, a família de Rodrigo Pacheco é proprietária
das empresas de ônibus Viação Real e Santa Rita, a primeira com forte presença
no transporte coletivo interestadual. Não à toa que o ex-deputado estadual
(2015/19), Arnaldo Silva Júnior, assessor lotado no Gabinete do Senador
Pacheco, foi aprovado como Diretor da ANTT – Agência Nacional de Transportes
Terrestres – em sabatina do Senado, em dezembro passado. Na ocasião ele
agradeceu ao Senador Rodrigo Pacheco pela sua indicação, contrapondo à posição
do Senador, que disse que a indicação do seu assessor e ex-deputado, Arnaldo
Silva Júnior, se deu por parte do Ministério da Infraestrutura, ao qual está
vinculada a ANTT. Sabe-se, ainda, que antes da publicação da nomeação do Presidente
no Diário Oficial da União, o nome da pessoa passa pelo crivo da
Secretaria-Geral da Presidência da República. Segundo a publicação da Isto É, bem
como do Portal Terra e do “site” Jus Navigandi, a nomeação está em desacordo
com a Lei Federal das Agências Reguladoras, Lei nº 13.848/2019, contrariando
dois dispositivos da mesma em razão do envolvimento político de Arnaldo, até
então presidente do DEM/Uberlândia-MG. Também por questões éticas, porque a
família do senador atua no ramo do transporte rodoviário por ônibus, cuidando a
ANTT dos preços das passagens, dos pedágios, dos fretes, da concorrência entre
empresas de ônibus, dentre outras atribuições.
A curta carreira
política de Rodrigo Pacheco está recheada de astúcia, indiscutivelmente por
êxitos. Já quis ser prefeito de BH, governador de Minas, e pode chegar agora à
Presidência da República por meio indireto. No seu primeiro cargo, como
Deputado Federal pelo MDB, ganhou notoriedade na Câmara como Presidente da Comissão
encarregada de decidir pelo afastamento do ex-Presidente Michel Temer, tomando
supostas posições corajosas, mas, vistas como protelatórias para a manutenção
de M.Temer. Já se manifestou contra a condenação pela Justiça em 2ª Instância e
até contra a Lava Jato, havendo especulações de que possa engavetar alguns
projetos considerados anticorrupção pelo lavajatismo, OPERAÇÃO QUE MORREU NESTA
4ª FEIRA. Agora, foi eleito com o apoio
do bolsonarismo, do PT e do Centrão. Para conseguir apoio do PSD, negociou
antes com esse partido em Minas, prometendo não sair candidato a governador nas
eleições do ano que vem a fim de não atrapalhar a possível candidatura do atual
prefeito de BH, Alexandre Kalil (PSD/MG).
Como modesto, mas antigo analista político, tenho medo de políticos espertos, insaciáveis e sem lado definido.
Marco Regis é médico, foi prefeito de Muzambinho (1989/92; 2005/08) e deputado estadual-MG (1995/98; 1999/2003) – [email protected]