Publicado em 09/04/2018 - cesar-vanucci - Da Redação
“Há loucura, mas há método nela.” (Shakespeare)
A erupção, pode-se dizer vulcânica, das incandescentes
falsidades que andam enxameando as redes sociais é fruto, no mais das vezes, de
ódio exacerbado, crassa ignorância, intolerâncias e preconceitos dilacerantes.
Mas o que mais intriga, chegando até mesmo a amargurar as pessoas de juízo
perfeito, providas de bom senso, sentimento nacional e sensibilidade social,
não são bem as propagadas sandices propriamente ditas. E, sim, a estarrecedora
constatação de serem numerosos, bem mais numerosos do que o admissível, os
setores aparentemente alfabetizados em termos de práticas cidadãs e de
conhecimento político a absorverem, sem grandes questionamentos, o besteirol alardeado,
urdido com inocultáveis intuitos maquiavélicos e maniqueístas.
As chamadas “fake news” são repassadas adiante sem
qualquer avaliação crítica. Ressoam, absurdamente, em muitos ambientes, como se
fossem verdades incontestes. Na fanatice de uns e outros, ganham conotação
dogmática, cruz credo! Contaminam a atividade comunitária, ao espalharem-se com
velocidade de grama tiririca. As características malsãs desse fenômeno,
registrado na fascinante esfera da comunicação célere, clamam por uma reflexão
mais aprofundada das lideranças, dos formadores de opinião. No salutar sentido
de proteger o sagrado interesse coletivo, projeta-se como extremamente
necessário um estudo urgente, bem articulado, por gente realmente capacitada a
analisar as consequências por inteiro da momentosa questão. Afigura-se
indispensável a criação de salvaguardas legais, harmonizadas com os preceitos
democráticos, que anteponham óbices eficazes à ação insidiosa em marcha. O que grupelhos
minoritários e rancorosos estampam rotineiramente nas redes sociais não espelha
o genuíno sentimento da sociedade brasileira. Em esforço diuturno condenável,
esses radicais empenham-se em disseminar informações destituídas de fundamento com
o indisfarçável objetivo de semear a confusão nos espíritos das criaturas
desavisadas. O que anda acontecendo, aqui (e lá fora, também), em matéria de
divulgação deturpada, impregnada de perversidade, remete a inglórios momentos
da história. Goebbels, um dos artífices do nazismo, dizia que a mentira
repetida acaba virando verdade. O sinistro Adolf Hitler, em “Minha Luta”,
referenda, lugubremente, o insano conceito de seu fiel “aspençada”: “As grandes
massas do povo (...) são mais facilmente vitimadas por uma mentira grande, do
que por uma mentira pequena.”
Tem muito nego por aí deitando e rolando na internet, a
emitir, com suas interpretações e versões mentirosas, certificado pessoal de
haver captado com exatidão as aberrações conceituais hitleristas.
Um amigo meu, bem identificado no que diz e escreve
pelo posicionamento crítico com relação às lideranças políticas e siglas
partidárias, sem exceção alguma, conta-me uma historinha surreal que serve como
magistral amostra da enxurrada de insanidades despejadas na internet. De um
cidadão bem posto na vida pública, que já exerceu cargos relevantes, seu conhecido
de longa data, recebeu postagem contendo “incrível denúncia”. A mensagem dava
conta de que “a pensão de valor mais elevado paga pela Previdência Social
favorece, ninguém mais, ninguém menos, do que a viúva de Che Guevara” tendo
sido “concedida” pelo governo passado.
O destinatário da mensagem colocou, naturalmente, em
dúvida a alegação. Sustentou que coisa assim, tão absurda, não passaria
desapercebida às redes de televisão e imprensa de modo geral. Ficou de queixo
caído com a réplica do propagador da denúncia. A observação que fez foi assim
rebatida: “Deixe de ser ingênuo, companheiro. Só você não está sabendo que as televisões, as rádios e os jornais
receberam dinheiro dos grandes empreiteiros, por ordem do José Dirceu, para esconder
os fatos graves que andam acontecendo.” Nada mais foi dito e, obviamente, nem
foi perguntado. O kafkiano diálogo parou aí.
Cesar Vanucci - Jornalista
([email protected])